Muitas famílias brasileiras têm dificuldade em receber o diagnóstico de obesidade infantil e juvenil. Na maioria dos casos, a família recebe esse diagnóstico com muito espanto e descrença.
Acreditamos que a origem dessa dificuldade seja a impressão antiga (e hoje em dia sabidamente equivocada) de que a criança mais saudável era aquela “cheia de dobrinhas” e que excesso de doces faz parte da infância.
Mas sabemos as consequências dessa doença: outras doenças relacionadas ao coração (diabetes, colesterol alto, pressão alta, infarto, derrame cerebral, etc) e todas as dificuldades pelas quais a criança pode ter que passar no seu dia a dia: dificuldades de correr, dores em joelhos, roncos e sono agitado, dores abdominais, apelidos pejorativos, etc.
Saímos de décadas de desnutrição infantil, mas, infelizmente, entramos rapidamente numa época de obesidade infantil. O que vem preocupando muito as autoridades de saúde do mundo!
Correria do dia a dia é vilã da obesidade infantil e juvenil
Pela falta de tempo e/ou organização, come-se muitos alimentos industrializados (ricos em gordura, açúcares e outras substâncias químicas), poucas frutas, verduras e alimentos naturais. Também bebe-se pouca água e muito suco industrializado, nos quais quase metade do conteúdo é açúcar. Os lanches são repletos de gorduras e molhos, têm excesso de farinha branca, açúcar e sódio.
O sedentarismo, pela falta de segurança das cidades, pelo uso abusivo de eletrônicos (maior que duas horas ao dia), pela dificuldade de logística com outras atividades diárias, também é um dos fatores que contribui para o aumento da obesidade entre as crianças e os adolescentes.
Precisamos atentar urgentemente para o fato de que a obesidade está se tornando uma epidemia em nosso país. E a responsabilidade também é de cada família por suas escolhas alimentares e de hábitos de vida. Nunca é tarde para repensarmos como vivemos. Ainda mais quando somos responsáveis pela saúde e educação dos filhos.
Comprar alimentos mais naturais, priorizar um tempo para cozinhar, prestar atenção aos rótulos dos produtos que consumimos, experimentar novos e, mais saudáveis, sabores, estabelecer dias e quantidades para consumir alimentos não saudáveis, criar e manter uma rotina de atividade física, reconhecer e tratar emoções que possam estar sabotando o esforço para as mudanças, são atitudes iniciais fundamentais para um estilo de vida mais saudável que servirão de exemplo e caminho para as crianças e adolescentes das famílias brasileiras.
Silvia Guesser
CRM 10339/SC | RQE 7753
Médica Endocrinologista Pediátrica