Por muito tempo, a infância remetia à uma ideia de passividade, falta de desejo e, portanto, psiquicamente neutra. Desde algum tempo, porém, sabemos que não é assim. Mesmo antes do nascimento, a criança vai construindo suas emoções, afetos e percepções. Construindo aspectos fundamentais de si. Quando, portanto, os responsáveis decidem sobre a escola para a primeira infância, quais brincadeiras incentivar e sobre a alimentação, por exemplo, estão fornecendo conteúdo para construção dos desejos e emoções, para a construção da identidade e personalidade da criança.
As expectativas voltadas ao crescimento das crianças objetivando um futuro de sucesso, muitas vezes são reflexo apenas das necessidades e fantasias dos adultos. Dessa forma, ao invés de contribuir para o desenvolvimento autônomo, há um deslocamento das etapas de desenvolvimento infantil e, como consequência, temos crianças sendo superestimuladas a responder às demandas excessivas de um sistema que exige competitividade e eficiência.
Assim, retiramos de cena a importância da afetividade, da experiência de a criança estar em contato com as próprias emoções, em contato com outras crianças e vivenciando o tempo com a mãe. Essa antecipação das exigências de respostas ao desenvolvimento na primeira infância tem ocorrido, especialmente, através da introdução excessiva da tecnologia na vida das crianças, mas, ao contrário, do que se acredita no senso comum, estimular as crianças cada vez mais cedo não as torna, necessariamente, mais aptas. A Academia Americana de Pediatria tem alertado para os danos decorrentes da exposição de bebês e crianças na primeira infância aos excessos do mundo digital, dentre os quais destacam a possibilidade de atrasos cognitivos, problemas de atenção, dificuldade de concentração e transtornos de sono e alimentação.
A natureza de um bebê é explorar e reconhecer o mundo pelos olhos da mãe. Ele precisa que a mãe cante, brinque lhe dê colo e peito. A natureza da criança é movimento e exploração. O cuidar de uma criança deve ser norteado não pelo desejo de fazê-la aprender antecipadamente, com excesso de estímulos, mas pelo esforço em seguir o desenvolver de sua inteligência e curiosidade natural, com base em seus próprios desejos e ritmo de aprendizado.
Amanda Pertile
Psicóloga (CRP 12/17379)