Muitas mães têm o costume de adotar receitas caseiras que suas avós faziam para cuidar dos filhos no passado. Quem nunca colocou um pano umedecido com álcool enrolado no pescoço do filho para passar a febre? Ou tomou uma limonada gelada para diminuir a temperatura? Por conta de tantos mitos, o médico pediatra Cecim El Achkar (CRM/SC 2239 – RQE 1779), ajuda a desvendar toda a verdade sobre a febre.
Banho gelado baixa a febre.
Mito
O banho frio não é indicado. Ele diminui a temperatura da pele, engana os receptores de temperatura e os fazem “pensar” que a febre programada não foi atingida. Isso os leva a enviar ao cérebro um sinal para voltar a aumentar a temperatura do corpo. Algumas vezes, pode provocar uma febre “rebote”, mais alta do que a inicial. Observar a criança é essencial para a agasalhar bem se estiver com frio e deixá-la em ambiente bem arejado e confortável caso sinta calor.
Existe intervalo mínimo para medicar uma criança.
Verdade
O intervalo mínimo para se medicar uma criança com febre é de 6 horas. Antes disso deve-se esperar a temperatura baixar e ajudar a criança: sempre que estiver com frio, agasalhá-la bem até começar a suar, secá-la e trocar a roupa para manter a criança com roupas sempre secas; e caso tenha calor, deixá-la bem à vontade, sem banhos e sem agasalhar. Prestar atenção na criança é importante porque ela pode variar entre frio e calor, e é preciso adequar a conduta conforme a oscilação da temperatura.
Colocar álcool na água do banho do bebê ajuda a baixar a febre.
Mito
Além de não ajudar, o uso do álcool é contraindicado porque pode causar intoxicação na criança.
Se a testa e a barriga da criança estiverem quentes, ela está com febre.
Mito
A testa, as mãos ou qualquer parte do corpo mais quente não indica febre. O ideal é usar um termômetro na axila para medir a temperatura da criança.
É importante avaliar a atividade da criança com febre.
Verdade
Durante a febre a criança pode ficar mais “quietinha”, porém, tendo a febre baixado completamente e a criança não brincar, não sorrir e se mostrar indisposta, é preciso procurar atendimento médico, pois pode haver gravidade no quadro. Durante o período em que a criança estiver com febre ela deverá ficar confortável, da forma como ela se sentir melhor. Têm crianças que ficam muito caídas e outras, ao contrário, ficam quase normais.
Enrolar o bebê com uma toalha encharcada dentro do chuveiro ajuda a baixar a febre.
Mito
O banho só deve ser aplicado morno e quando a criança não está com frio, com a finalidade de manter a mãe ocupada enquanto a temperatura vai baixando com a administração do antitérmico. Colocar a criança em uma toalha molhada leva ao mesmo problema do banho com água fria: pode levar a um quadro de febre mais intenso e ainda provocar choque térmico.
É preciso tirar toda a roupa da criança que está com febre.
Mito
Na vigência da febre, a criança pode sentir muito frio, inclusive calafrios. Neste caso, você deve agasalhá-la. Lembre-se, no entanto, que após administrar o antitérmico, sempre receitado pelo pediatra, o inverso pode ocorrer, ou seja, a criança pode sentir muito calor e suar muito. Neste caso, fazemos o inverso, tiramos o excesso de roupa.
Toda criança com febre pode ter convulsões.
Mito
A convulsão febril, felizmente um evento geralmente benigno, ocorre com determinadas crianças predispostas geneticamente na presença de febre, desde 37°C até 40°C, e sempre ocorre no primeiro episódio do quadro infeccioso. Brincamos com os pacientes dizendo que a convulsão febril “não mata a criança” pelo seu aspecto geralmente benigno, mas “quase mata os pais” pelo imenso susto inesperado que causa. Estas crianças predispostas devem, no entanto, ter atendimento para que os cuidadores possam receber orientação sobre como prevenir estas convulsões com medicamentos específicos e como agir na vigência da convulsão. A predisposição genética pode ser identificada por meio de exames e testes genéticos.
Até os 37.8°C não é necessário medicar a criança.
Mito
A criança deve ser medicada com qualquer temperatura se estiver caída, chorona ou com dor e acima de 38,6° sempre.
É correto alternar dois tipos de antitérmicos.
Mito
O recomendado é usar sempre o mesmo antitérmico, receitado pelo pediatra, e ao qual a criança responde melhor. A alternância não vai mudar o quadro.
É importante lembrar que a febre não é uma doença, mas sim um sintoma de uma provável doença. O que necessita de tratamento é a doença e não a febre, por isso, o indicado é procurar sempre ajuda, consultando o pediatra nos quadros febris para que se possa fazer o diagnóstico e o tratamento.