O bebê chamado de regurgitador feliz é aquele que apresenta vômitos e/ou regurgitação sem comprometimento do crescimento, ganho de peso e qualidade de vida. A criança não apresenta dor, sofrimento ou desconforto por estar vomitando ou regurgitando. Muitas vezes ri ou não altera as feições por ter regurgitado.
A regurgitação é muito comum em bebês saudáveis. Pode ocorrer em até 67% dos bebês aos quatro meses de vida. Nos bebês entre seis e sete meses, 21% regurgitam pelo menos uma vez ao dia sem que isso seja uma doença.
O refluxo gastroesofágico (RGE) é a volta do conteúdo gástrico (do estômago) ao esôfago ou regiões extra esofágicas, com ou sem regurgitação e/ou vômitos. O RGE é associado ao relaxamento transitório do esfíncter esofagiano inferior (EEI) e geralmente é considerado em recém-nascidos e lactentes como um evento fisiológico. A manifestação do RGE não patológico mais típica é a regurgitação e vômitos recorrentes, que afeta 50% dos lactentes saudáveis entre zero e três meses. Na maioria dos lactentes, a frequência das regurgitações diminui ou se resolve completamente aos 12 meses de idade.
O que torna um bebê um regurgitador feliz
A posição geralmente deitada, a alimentação em grande parte líquida e a imaturidade dos mecanismos antirrefluxo são os principais fatores que predispõe ao RGE. A incompetência do esfíncter esofagiano inferior se deve a baixa pressão e ao pequeno comprimento do mesmo. Além disso, o movimento de limpeza do esôfago (peristaltismo) encontra-se prejudicado, visto posição quase sempre horizontal. Com isso, entende-se o porquê do refluxo, mesmo que em situações fisiológicas, ser tão frequente e sintomático (regurgitação e vômitos) em bebês.
O amadurecimento dos mecanismos antirrefluxo, além de a criança começar a se apresentar menos tempo deitada, pois passa a sentar-se e depois ficar em pé, e a receber alimentos sólidos, faz com o RGE torne-se menos sintomático e frequente com o crescimento do bebê.
Um simples RGE fisiológico pode se transformar na Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) quando o RGE produz sintomas que comprometem a qualidade de vida e o crescimento do bebê. Os sintomas clínicos da DRGE são:
- vômitos recorrentes;
- baixo ganho de peso;
- recusa alimentar;
- irritabilidade;
- dificuldade para engolir;
- tosse;
- chiado no peito;
- rouquidão e etc.
Embora na maioria das crianças o RGE se resolva espontaneamente, 20 a 40% podem desenvolver a DRGE.
Medidas que auxiliam tanto para a DRGE e a RGE são sempre necessárias, principalmente nos lactentes pequenos que vomitam e que crescem adequadamente. Independentemente da gravidade, as mudanças dos hábitos de vida incluem:
- não usar roupas apertadas;
- sugerir a troca das fraldas antes das mamadas;
- evitar o tabagismo passivo, pois a exposição ao tabaco induz o relaxamento do EEI, aumenta os índices de asma, pneumonia, apneia e da síndrome de morte súbita;
- fazer refeições fracionadas e em pequenos volumes;
- adotar postura anti-RGE.
A postura antirrefluxo foi, por muito tempo, adotado como o deitar do lado esquerdo com elevação da cabeceira ou deitar de barriga para baixo. Hoje se recomenda o deitar de barriga para cima, visto que o risco de morte súbita se eleva em 10 vezes quando a criança está de barriga para baixo e em três vezes quando deitada de lado esquerdo. Isso fez com que os autores passassem a recomendar deitar de barriga para cima. Em crianças maiores e adolescentes, recomenda-se elevar a cabeceira da cama e deitar de lado esquerdo.
Os pais dos “regurgitadores felizes” devem ficar tranquilos visto que nada grave está acontecendo e a resolução do quadro ser espontânea, pois o crescimento do bebê é o melhor remédio para as “golfadas” sumirem. Em caso de dúvida, converse sempre com seu pediatra ou procure a opinião de um especialista, que nesse caso seria um gastropediatra.