Estamos celebrando neste mês de setembro trinta e quatro anos de Clínica Tio Cecim. Quando começamos a atender, as doenças eram muito diferentes das que tratamos hoje. Naquela época, tínhamos muita desidratação. Eram centenas de crianças desidratadas todos os dias, com vômitos e diarreia, e que precisavam de internação. Os doze leitos de uma enfermaria ficavam continuamente lotados por causa de pneumonias. As doenças renais eram muito prevalentes, sempre tínhamos crianças com glomerolunefrite internadas, inclusive, com edema agudo de pulmão. Doenças osteoarticulares, tais como febre reumática e artrite, tinham grande incidência. Uma enfermaria só cuidava desses casos. As ocorrências de meningite eram constantes e os pacientes acometidos por essa doença iam a óbito na grande maioria dos casos. As bronquiolites em bebês eram gravíssimas. Os pacientes ficavam internados e a maior parte deles morria.
Doenças como sarampo, difteria, tétano e paralisia infantil eram comuns e desfechos fatais ou sequelas graves decorrentes delas eram frequentes. As paralisias cerebrais eram uma constante em partos difíceis e mal conduzidos. Pacientes desnutridos, já naquela época, eram tantos e tão graves que existia uma unidade de internação exclusiva para essas crianças.
Hoje, a maioria dessas doenças praticamente já não existe e as que temos são em número extremamente pequenos. As crianças de hoje são todas vacinadas e há disponibilidade de vacinas para a maioria das doenças graves. A desnutrição praticamente desapareceu, dando lugar à obesidade.
Atualmente as crianças são mais bem cuidadas. Os pais e os pediatras têm muito mais conhecimento, o que, aliado à vacinação, fez toda a diferença para que resultados mais positivos fossem alcançados. A tecnologia ajudou muito pouco a pediatria.
O que mudou nas três décadas da Clínica Tio Cecim
A pediatria é uma especialidade artesanal em sua essência e a sua evolução provém diretamente do conhecimento e, ainda, muito da observação. Uma vez que as crianças menores não falam, as pesquisas que envolvem esse público se tornam mais difíceis.
Precisamos evoluir em muitos aspectos, como na educação, impondo mais limites, além de dar o que realmente as crianças “precisam” e não o que elas “querem”; na alimentação, oferecendo essencialmente uma dieta natural, restringindo a oferta de doces, refrigerantes, salgadinhos, bolachas e sucos em caixinha; evitando acidentes, que é a principal causa de morte nos primeiros anos de vida da criança.
Temos muitos motivos para comemorar, no entanto, temos também ainda muito para realizar e, com certeza, estamos todos juntos nessa caminhada, tanto os pediatras, quanto os pais e a sociedade, até porque, aquilo que fizermos com as crianças hoje, elas replicarão na sociedade amanhã.
Se cada um de nós tentarmos agir de maneira sábia, procurando primeiro sermos humanos, para depois termos os objetos, com certeza teremos uma geração ainda melhor e irremediavelmente viveremos com mais amor, com mais generosidade e também solidariedade.